segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Já não existem horas...


Já não existem horas
Para te amar!
Cheguei em segredo,
Ao caudal do rio.

No barco, junto aos remos
guardei o Tempo,
Para que ao anoitecer  
Pudesse recordar o silencio
do teu corpo em mim…

Olhei a vela.
No reflexo, a Lua traz-me ao pensamento
O renascer da vida, depois do desejo falecido…

Amei-te nos minutos eternos,
Perpetuados no respirar da madrugada
Amei-te tanto, tanto
Que nunca mais fui encontrada…




Rita Pea, 2015 

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Imperativa Vontade!

A noite branca trouxe-me 
um tango bucólico, 
à margem, 
dos meus pensamentos. 

Desejei que as tuas mãos, 
tocassem o meu corpo 
e me conduzisses 
numa dança 
de prender a respiração, 

Que me envolvesses 
E seduzisses, com esse olhar 
que me derrete e acorda as borboletas, 
no meu estômago. 

Que me amasses
além da efemeridade da vida... 

E transformasses 
esta minha prosaica vontade, 
num simples pedaço de realidade.  


Rita Pea, 2015 

Palavras Inquietas

As palavras hoje estão inquietas. 
Na verdade, são inquietas, as palavras. 
E eu também. 

Insatisfeita como a Lua
Inconstante, como as suas fases. 


Nova, em quarto minguante
Desejo a solidão. 
Cheia, em quarto crescente 
Desejo a inspiração,  

Para que as minhas palavras ecoem 
Em segredo, pelo passar do Tempo... 


Rita Pea, 2015 

sábado, 17 de outubro de 2015

Anteros



Deitei-me lentamente sob o teu corpo,
Para saborear o vinho
que deslizava como um rio, na direcção dos meus lábios.
Ergueste a taça, para o brinde.
Degustei. Bebi.
Saciei a minha sede.

Era noite.
A lua embriagou-nos de desejo.

Devorámo-nos. Desfolhámos as palavras e os gritos.
Germinámos a esperança, mordemos o Sonho.
Deu-se o Holocausto.

A hora arrefeceu.
A alma renasceu.
Deu-se o Outono, nos meus versos…



Rita Pea, 2015




Escondi o teu poema...

Escondi o teu poema,

na sombra que invadiu a minha alma,

com a chegada do crepúsculo.

Não quis que ninguém,

roubasse as palavras que escreveste

só para mim.

Assim, a qualquer momento,

Posso amar-te, amar-te eternamente,

mesmo que seja em pensamento...




Rita Pea, 2015

O meu coração partiu...

O meu coração partiu.

Foi com o vento para longe.

Libertou-se das amarras do meu corpo

para viver livre...

Foi descansar no rio,

deitado num mangal,

onde acabou por adormecer a fome de uma fragata.



Rita Pea, 2015 

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Tigela Muda


A tigela estava muda, na minha mão.

Sobre a mesa, estava uma colher.

Foi então que a agarrei lentamente 


e mergulhei-a na profundidade do objecto côncavo 

que transbordava sentimentos... 

Provei por fim, 

o sabor amargo do tempo e a acidez da vida...




Rita Pea, 2015 

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Agapimu

Trago o vinho,
na sombra dos meus lábios
sedentos, do outono da tua boca... 

Brindemos com o copo! 
Cheio de amor, de Tempo, de Vulgaridade... 

A melodia do piano cessou 
a nudez dos corpos, 
e o silencio da madrugada nua... 


Rita Pea, 2015 

terça-feira, 5 de maio de 2015

Origem...

O meu corpo nasceu 

do ventre da terra, da água, 


da profundidade da sombra. 



O meu pensamento é filho

do silencio pornográfico das flores,


que seduz o meu olhar, 


a cada manhã. 



A minha alma é o berço,

onde descanso a loucura secreta

do meu verbo...


(Rita Pea, 2015) 


segunda-feira, 27 de abril de 2015

Os meus versos, hoje...

Os meus versos 

hoje, 

são mudos. 

são cegos.

São Intocáveis. 


Não têm cheiro. Não têm sabor. 


Os meus versos

hoje, 

são silêncio. 

são Ausência.  

são esquecimento, 

apenas...

(Rita Pea, 2015) 

quarta-feira, 8 de abril de 2015

A Bailarina

Vi uma bailarina dançar,

na discreta margem esquerda do rio. 


O seu corpo, flutuava

como a água que seguia o seu rumo.

Fiquei ali, 


com os meus olhos presos

à verdade dos seus movimentos, 

a sentir a intensidade das suas emoções

como se eu fosse o oceano,

à espera de me entregar 


no leito da eternidade...


Rita Pea, 2015

terça-feira, 7 de abril de 2015

A Madrugada

A madrugada 

escorre pelos dedos, 

contornando o rasto de tinto

que ainda permanece no copo,

depois da lua ter bebido 

nos meus lábios, 

a fragrância da noite... 



Rita Pea, 2015 

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Discórdia com o Amor

Já não concordo com o Amor 

E tenho a gramática do meu lado. 

Os pretéritos, perfeito e imperfeito, 

As exclamações, as interrogações, as reticências... 

Tenho também a prosa, 

a crónica e o conto, 

As ciências exactas, o vinho e a espiritualidade, 

Tenho a poesia 

que me permite refutar o óbvio 

e ouvir a inquietação da certeza...



Rita Pea, 2015